
Caeiro, também aqui, é o mestre. Este blogue é mantido por Possidónio Cachapa e todos os que acham por bem participar. A blogar desde 2003.
27 de julho de 2004
CONAN, UMA VEZ MAIS
Vivia fora de Portugal aquando das repetições na SIC. Por isso já lá iam 20 anos (se não mais) que não o via pendurar-se pelos dedos dos pés, enfrentar tufões e atirar grupos de maus ao ar à força de braço...
Entretanto fui descobrindo quem era o Myazaki, os seus filmes e o seu maravilhoso talento. Fui relembrado à força de dvds de que o talento de um criador não se deixa impressionar com a passagem do tempo.
Aguenta-se pelos dedos dos pés no vazio, imagino eu...
Vivia fora de Portugal aquando das repetições na SIC. Por isso já lá iam 20 anos (se não mais) que não o via pendurar-se pelos dedos dos pés, enfrentar tufões e atirar grupos de maus ao ar à força de braço...
Entretanto fui descobrindo quem era o Myazaki, os seus filmes e o seu maravilhoso talento. Fui relembrado à força de dvds de que o talento de um criador não se deixa impressionar com a passagem do tempo.
Aguenta-se pelos dedos dos pés no vazio, imagino eu...
FUMOS 1
Quase debaixo da minha janela, um andar abaixo, dois homens fumam cigarros atrás de cigarros. Está calor e distraem-se assim. Têm os pés assentes num apartamento comprado ou alugado, os braços estendidos na direcção da rua que é pública. E contudo, é nas paredes do meu quarto que o fumo se aloja, incidioso e nojento.
Tudo legal e praticamente correcto. O cancro quase privado.
Isso traz-me à memória uma carta publicada na Grande Reportagem deste sábado. "(...)que dizer do meu local de trabalho, o serviço de anestesia do Hospital de Santa Maria, onde tenho de "gramar" a poluição horrível e sufocante dos meus colegas viciados do cigarro(...) Impressionante a cadência com que aquelas doutoras anestesistas consomem cigarros durante as horas de serviço incomodando tudo e todos, viciando o ar ambiente das nossas instalações (...)E eu que julgava ser proibido fumar nesas instituições de saúde. Meus Deus, como sou ingénuo".
Quase debaixo da minha janela, um andar abaixo, dois homens fumam cigarros atrás de cigarros. Está calor e distraem-se assim. Têm os pés assentes num apartamento comprado ou alugado, os braços estendidos na direcção da rua que é pública. E contudo, é nas paredes do meu quarto que o fumo se aloja, incidioso e nojento.
Tudo legal e praticamente correcto. O cancro quase privado.
Isso traz-me à memória uma carta publicada na Grande Reportagem deste sábado. "(...)que dizer do meu local de trabalho, o serviço de anestesia do Hospital de Santa Maria, onde tenho de "gramar" a poluição horrível e sufocante dos meus colegas viciados do cigarro(...) Impressionante a cadência com que aquelas doutoras anestesistas consomem cigarros durante as horas de serviço incomodando tudo e todos, viciando o ar ambiente das nossas instalações (...)E eu que julgava ser proibido fumar nesas instituições de saúde. Meus Deus, como sou ingénuo".
25 de julho de 2004
24 de julho de 2004
CONTINUAR
Lendo o programa de governo, disponibilizado na net, verifico que a ministra da cultura tenciona continuar a política do seu antecessor.
Segundo as últimas notícias, Harry Potter já terá declarado "Ela que nem pense que eu vou voltar a emprestar o meu manto de invisibilidade a um ministro!".
Lendo o programa de governo, disponibilizado na net, verifico que a ministra da cultura tenciona continuar a política do seu antecessor.
Segundo as últimas notícias, Harry Potter já terá declarado "Ela que nem pense que eu vou voltar a emprestar o meu manto de invisibilidade a um ministro!".

O FOSSO
Qualquer pessoa que tenha estado num país subdesenvolvido estará habituado ao choque de ver gente podre de rica a passar nas ruas onde se sofre com fome. Quando aconteceu o 25 de Abril e a música de Carlos Paredes se confundia com canções ingénuas de intervenção julgou-se que isso nunca mais aconteceria em Portugal.
Hoje, no país em que o primeiro-ministro entrega programas de governo em cd-rom (o que é bom para as árvores) temos 400.000 desempregados (declarados) e um aumento astronómico da venda de carros de luxo. A Jaguar aumentou mais de 400 % as suas vendas, no ano passado, venderam-se modelos que custam meio milhão de euros e por aí fora...
É por estas e por outras que o discurso de que é preciso que os empresários rebentem de ricos para que os pobres possam ter uma sopa na mesa se torna mais chocante. Para mim, para mim, pelo menos...
Qualquer pessoa que tenha estado num país subdesenvolvido estará habituado ao choque de ver gente podre de rica a passar nas ruas onde se sofre com fome. Quando aconteceu o 25 de Abril e a música de Carlos Paredes se confundia com canções ingénuas de intervenção julgou-se que isso nunca mais aconteceria em Portugal.
Hoje, no país em que o primeiro-ministro entrega programas de governo em cd-rom (o que é bom para as árvores) temos 400.000 desempregados (declarados) e um aumento astronómico da venda de carros de luxo. A Jaguar aumentou mais de 400 % as suas vendas, no ano passado, venderam-se modelos que custam meio milhão de euros e por aí fora...
É por estas e por outras que o discurso de que é preciso que os empresários rebentem de ricos para que os pobres possam ter uma sopa na mesa se torna mais chocante. Para mim, para mim, pelo menos...
23 de julho de 2004
MÚSICA
As hárpias hão-de estar felizes: 2004 foi o ano de todos os desaparecimentos.
Pediram-me há um ano atrás que escrevesse um texto sobre a música de Carlos Paredes. Ocorreram-me imagens de mineiros, gente que arrancasse música da rocha. Com esforço. E que a energia dessa dificuldasse levasse a notas mais altas do que se julgaria possível. Falo de memória. E é na memória que lembraremos a sua forma de fazer. O resto fica para o futuro. Para os que voltarem a pegar nas suas composições.
As hárpias hão-de estar felizes: 2004 foi o ano de todos os desaparecimentos.
Pediram-me há um ano atrás que escrevesse um texto sobre a música de Carlos Paredes. Ocorreram-me imagens de mineiros, gente que arrancasse música da rocha. Com esforço. E que a energia dessa dificuldasse levasse a notas mais altas do que se julgaria possível. Falo de memória. E é na memória que lembraremos a sua forma de fazer. O resto fica para o futuro. Para os que voltarem a pegar nas suas composições.
22 de julho de 2004
JORNAL DO INCRÍVEL
Hoje de manhã, ao sair de casa, ouvi gemer. Fui encontrar um homenzinho louro, a gravata à banda e ar de pânico, escondido atrás do caixote do lixo.
"POR AMOR DE DEUS, não me denuncie...", pediu ele, "Esta madrugada, quando ia a passar na 24 de Julho, fui perseguido pelo Santana Lopes". Neste ponto da história, arrepiei-me: ser perseguido pelo actual (risos) primeiro-ministro deve ser uma experiência difícil. "Queria que eu fosse secretário de estado da Noite... Que eu tinha sido a primeira pessoa a passar por ali e por isso... Eu recusei, dizendo que tinha tido uma avaria no carro e que estava a tentar resolver o problema... Aí ele deu-me uma palmada no ombro e declarou que então passaria a ser secretário dos Transportes, ou das Avarias Gerais, ou dos Acasos Improváveis... Por amor de Deus: não diga a ninguém que aqui estou".
E dizendo isto, retirou um cornflake que tinha ficado pegado à caixa que comeu com ar aflito...
Hoje de manhã, ao sair de casa, ouvi gemer. Fui encontrar um homenzinho louro, a gravata à banda e ar de pânico, escondido atrás do caixote do lixo.
"POR AMOR DE DEUS, não me denuncie...", pediu ele, "Esta madrugada, quando ia a passar na 24 de Julho, fui perseguido pelo Santana Lopes". Neste ponto da história, arrepiei-me: ser perseguido pelo actual (risos) primeiro-ministro deve ser uma experiência difícil. "Queria que eu fosse secretário de estado da Noite... Que eu tinha sido a primeira pessoa a passar por ali e por isso... Eu recusei, dizendo que tinha tido uma avaria no carro e que estava a tentar resolver o problema... Aí ele deu-me uma palmada no ombro e declarou que então passaria a ser secretário dos Transportes, ou das Avarias Gerais, ou dos Acasos Improváveis... Por amor de Deus: não diga a ninguém que aqui estou".
E dizendo isto, retirou um cornflake que tinha ficado pegado à caixa que comeu com ar aflito...
21 de julho de 2004
NACIONAL POSITIVO
Num tempo em que toda a gente só pede e reclama, foi muito agradável ver uma das responsáveis da empresa Carapau de Corrida sorrir e declarar a sua vontade de trabalhar e ir ao encontro da sua clientela pequenina. As roupas e acessórios são de facto lindos, ou assim me pareceram através da televisão. A imaginação parte ali à desfilada, com bolsos que os putos podem mudar de sítio se lhes der na real gana e vestidos-relva que nos remetem para aquilo que a infância deve ser: um lugar tranquilo onde se pode sonhar sem medo do que pareceremos.
Para os pais que muitos de vocês são, sugiro uma visita aqui. :)
Num tempo em que toda a gente só pede e reclama, foi muito agradável ver uma das responsáveis da empresa Carapau de Corrida sorrir e declarar a sua vontade de trabalhar e ir ao encontro da sua clientela pequenina. As roupas e acessórios são de facto lindos, ou assim me pareceram através da televisão. A imaginação parte ali à desfilada, com bolsos que os putos podem mudar de sítio se lhes der na real gana e vestidos-relva que nos remetem para aquilo que a infância deve ser: um lugar tranquilo onde se pode sonhar sem medo do que pareceremos.
Para os pais que muitos de vocês são, sugiro uma visita aqui. :)
SEU ESTE, SEU AQUELE!
Ontem ia andando à porrada. Dito assim soa exactamente àquilo que quase foi: o descontrolo da imaturidade. Embora menos divertido do que as memórias de infância.
Perguntam-me por quê? Se foi para defender a liberdade de expressão, ou para salvar das garras de um terrorista uma italiana indefesa (como se existissem...!)... Enfim, há-de ter sido por coisa de monta, isto de adultos quase chegarem a vias de facto. Mas não.
Foi por um lugar de estacionamento.
Depois de inúmeras voltas no parque de estacionamento de um centro comercial, vislumbrei um carro que saía. Fiz o que normalmente se faz: abri sinal e encostei à direita. Infelizmente, de frente chegou um outro carro. Que abriu sinal. Surpreendido fiz-lhe sinal que (como se vira) tinha chegado e que iria estacionar ali. Ele insistiu no pisca. E eu na pretensão. A fila de carros avolumava-se atrás de ambos. Mal o outro desencostou, cheguei-me à frente. Foi o tempo dos insultos que ali se instalou. Enlouquecido, aos gritos, o casal do outro lado berrava que aquele sítio "era deles"; que eu teria "manifestado a intenção breve de não me apetecer estacionar ali" (em tradução foi mais ou menos isto: "$#"/&&=/=(&()( na )(/()/&(/& desse lugar, mas como são todos uns P=/&/)/( e )(/(/&/%#"""!!#). O homem queria mesmo sangue. Eu só queria estacionar. As dezenas de carros que foram chegando e buzinavam furiosamente estavam mais viradas para ir procurar um lugar para eles. Foi este coro de buzinadelas que o levou a desistir. Sem ao menos ter podido trocar uns socos. Como se faz no buraco onde mora. Como se fazia na infância que lhe calhou. Como há-de fazer quando a gritadora que vai ao lado lhe berra aos ouvidos.
A violência não me amedronta, sempre que tenho razão. Mas surpreende-me. Parece-me que não há-de existir sobre aquela forma por lapidar.
Mas sou eu, que não vivo com os pés a 100% na terra.
Ontem ia andando à porrada. Dito assim soa exactamente àquilo que quase foi: o descontrolo da imaturidade. Embora menos divertido do que as memórias de infância.
Perguntam-me por quê? Se foi para defender a liberdade de expressão, ou para salvar das garras de um terrorista uma italiana indefesa (como se existissem...!)... Enfim, há-de ter sido por coisa de monta, isto de adultos quase chegarem a vias de facto. Mas não.
Foi por um lugar de estacionamento.
Depois de inúmeras voltas no parque de estacionamento de um centro comercial, vislumbrei um carro que saía. Fiz o que normalmente se faz: abri sinal e encostei à direita. Infelizmente, de frente chegou um outro carro. Que abriu sinal. Surpreendido fiz-lhe sinal que (como se vira) tinha chegado e que iria estacionar ali. Ele insistiu no pisca. E eu na pretensão. A fila de carros avolumava-se atrás de ambos. Mal o outro desencostou, cheguei-me à frente. Foi o tempo dos insultos que ali se instalou. Enlouquecido, aos gritos, o casal do outro lado berrava que aquele sítio "era deles"; que eu teria "manifestado a intenção breve de não me apetecer estacionar ali" (em tradução foi mais ou menos isto: "$#"/&&=/=(&()( na )(/()/&(/& desse lugar, mas como são todos uns P=/&/)/( e )(/(/&/%#"""!!#). O homem queria mesmo sangue. Eu só queria estacionar. As dezenas de carros que foram chegando e buzinavam furiosamente estavam mais viradas para ir procurar um lugar para eles. Foi este coro de buzinadelas que o levou a desistir. Sem ao menos ter podido trocar uns socos. Como se faz no buraco onde mora. Como se fazia na infância que lhe calhou. Como há-de fazer quando a gritadora que vai ao lado lhe berra aos ouvidos.
A violência não me amedronta, sempre que tenho razão. Mas surpreende-me. Parece-me que não há-de existir sobre aquela forma por lapidar.
Mas sou eu, que não vivo com os pés a 100% na terra.
19 de julho de 2004
DA JANELA DO AUTOCARRO 74
avisto o que se convencionou chamar uma "tiazorra" (que consiste numa espertalhona, a quem a vida não beneficiou com heranças ou educação, mas que está disposta a chegar ao topo apoiando os bicos afiados dos sapatos nas cabeças de quem for preciso). Lá ia, com o cabelo quase louro ao vento, as argoletas a desafiarem a gravidade, o bronzeado artificial a chupar-lhe a cara comida pela dieta. Isto tudo embrulhado num "tailleur" que um dia (talvez) será pago à loja.
Quem morou nos subúrbios das cidades entenderá melhor do que falo, pois é ali que deambulam, escorrendo baba, os cães vadios.
avisto o que se convencionou chamar uma "tiazorra" (que consiste numa espertalhona, a quem a vida não beneficiou com heranças ou educação, mas que está disposta a chegar ao topo apoiando os bicos afiados dos sapatos nas cabeças de quem for preciso). Lá ia, com o cabelo quase louro ao vento, as argoletas a desafiarem a gravidade, o bronzeado artificial a chupar-lhe a cara comida pela dieta. Isto tudo embrulhado num "tailleur" que um dia (talvez) será pago à loja.
Quem morou nos subúrbios das cidades entenderá melhor do que falo, pois é ali que deambulam, escorrendo baba, os cães vadios.
CASAS
Segundo leio, o preço do aço desceu, diminuindo os custos de construção. Paralelamente, o preço médio das casas subiu, no mesmo período, 3,4 %. Eu sei que não fui grande aluno a matemática... mas ainda assim, tenho um pressentimento de que algo está errado com esta conta.
Uma das coisas mais divertidas quando se viaja é comparar os preços das habitações entre as grandes cidades europeias e QUALQUER cidade portuguesa. É sempre fascinante saber que um apartamento de 3 assoalhadas no centro de Paris pode custar o mesmo que um T0 em Chelas. Julgo que esta diferença se explica com os ordenadões que recebem os trolhas ucranianos ou guineenses no nosso país... Pobres empreiteiros portugueses.
Segundo leio, o preço do aço desceu, diminuindo os custos de construção. Paralelamente, o preço médio das casas subiu, no mesmo período, 3,4 %. Eu sei que não fui grande aluno a matemática... mas ainda assim, tenho um pressentimento de que algo está errado com esta conta.
Uma das coisas mais divertidas quando se viaja é comparar os preços das habitações entre as grandes cidades europeias e QUALQUER cidade portuguesa. É sempre fascinante saber que um apartamento de 3 assoalhadas no centro de Paris pode custar o mesmo que um T0 em Chelas. Julgo que esta diferença se explica com os ordenadões que recebem os trolhas ucranianos ou guineenses no nosso país... Pobres empreiteiros portugueses.
17 de julho de 2004
TOMADA DE POSE
A composição do novo governo foi a esperada: dois homens fortes que transitam e contemplam a continuidade da coisa estável; um que vem de arrasto porque qualquer um que lá caia será como um pena que voa entre interesses farmacêuticos, corporações médicas e necessidades tão grandes que nunca serão alimentadas a contento; e o grupo dos amigalhaços. Nada de novo nisto, basta olhar para governos anteriores para ver que sempre foi assim.
Da mesma maneira que a concepção que os primeiro-ministros têm das mulheres. Neste, apenas 3, entre 12. A ocuparem as pastas que um Portugal machista aprova: a escola e a cultura. No primeiro caso, porque é destino da mulher (além do maravilhoso dever da maternidade, como diria o actual ministro das Finanças...) educar as crianças. A outra parte cumpre o lado decorativo. Não há coisa mais bela e inútil do que a Cultura, nesta visão. Logo, nada melhor do que uma mulher para a ocupar.
Pergunto a mim próprio como é que os milhões de mulheres portuguesas não tomam consciência disto e vão para as ruas pedir a chegada do século XXI...?
A composição do novo governo foi a esperada: dois homens fortes que transitam e contemplam a continuidade da coisa estável; um que vem de arrasto porque qualquer um que lá caia será como um pena que voa entre interesses farmacêuticos, corporações médicas e necessidades tão grandes que nunca serão alimentadas a contento; e o grupo dos amigalhaços. Nada de novo nisto, basta olhar para governos anteriores para ver que sempre foi assim.
Da mesma maneira que a concepção que os primeiro-ministros têm das mulheres. Neste, apenas 3, entre 12. A ocuparem as pastas que um Portugal machista aprova: a escola e a cultura. No primeiro caso, porque é destino da mulher (além do maravilhoso dever da maternidade, como diria o actual ministro das Finanças...) educar as crianças. A outra parte cumpre o lado decorativo. Não há coisa mais bela e inútil do que a Cultura, nesta visão. Logo, nada melhor do que uma mulher para a ocupar.
Pergunto a mim próprio como é que os milhões de mulheres portuguesas não tomam consciência disto e vão para as ruas pedir a chegada do século XXI...?

16 de julho de 2004
NA PRATELEIRA ONDE NADA SE REPETE
"Então, Barnabé, tudo ficou prompto?
"Sim, meu senhor."
"Está a gaiola arranjada, o que falta é o pardal!"
Riu-se, abrindo uma boca monstruosa.
D. Paio não secundou o riso do seu humillissimo servo; mas pareceu agradar-lhe a demonstração.
"Estou satisfeito de ti porque me tens servido a meu contento. És um excellente servo"
in A CONQUISTA DE LISBOA, Carlos Pinto de Almeida, 1866
"Então, Barnabé, tudo ficou prompto?
"Sim, meu senhor."
"Está a gaiola arranjada, o que falta é o pardal!"
Riu-se, abrindo uma boca monstruosa.
D. Paio não secundou o riso do seu humillissimo servo; mas pareceu agradar-lhe a demonstração.
"Estou satisfeito de ti porque me tens servido a meu contento. És um excellente servo"
in A CONQUISTA DE LISBOA, Carlos Pinto de Almeida, 1866
DECLARAÇÃO QUASE POLÍTICA
É capaz de ser da passagem do tempo. Mas cada dia que passa, ou melhor, nos dias que acontecem, concordo cada vez mais com o Miguel Sousa Tavares e com o Pacheco Pereira. A posição clara de ambos face à aurea mediocritas da nossa política está, no essencial, igual à minha. E a pouca paciência para o baile de debutantes que se avizinha, idem.
É capaz de ser da passagem do tempo. Mas cada dia que passa, ou melhor, nos dias que acontecem, concordo cada vez mais com o Miguel Sousa Tavares e com o Pacheco Pereira. A posição clara de ambos face à aurea mediocritas da nossa política está, no essencial, igual à minha. E a pouca paciência para o baile de debutantes que se avizinha, idem.
15 de julho de 2004
DO NADA
Quando se olha com atenção o panorama das pessoas que se conhecem, de ver falar na televisão ou de ler nos jornais, fixamo-nos frequentemente no apelido. Não é por acaso. A esmagadora maioria desses nomes já era conhecido nas gerações anteriores. Frequentemente, desde a queda do Marquês de Pombal.
Pensei nisto, enquanto procurava no dicionário da Academia a forma correcta como se escrevia uma palavra. E se eu não tivesse dicionário? Ou dinheiro para um computador, com corrector ortográfico, para as dúvidas mais básicas? Sem querer dar a imagem do alpinista (porque eu estaria a falar da busca do conhecimento e nos tempos que vivemos isso significa apenas fazer madeixas, não olhar a meios e subir em direcção ao fogo que queimará), ainda vou lembrando que é mais fácil atingir o cume com um casaco quentinho e umas botas adequadas.
Por isso, quando vejo alguém que conseguiu produzir uma obra contra todas as dificuldades económicas, sociais ou de qualquer outra natureza simples, não posso deixar de o/a valorizar.
É tão fácil conjugar bem os verbos quando o papá e a mamã (e ainda bem para eles) são licenciados e o avô e a avó tinham a casa cheia de livros...
E contudo...
Quando se olha com atenção o panorama das pessoas que se conhecem, de ver falar na televisão ou de ler nos jornais, fixamo-nos frequentemente no apelido. Não é por acaso. A esmagadora maioria desses nomes já era conhecido nas gerações anteriores. Frequentemente, desde a queda do Marquês de Pombal.
Pensei nisto, enquanto procurava no dicionário da Academia a forma correcta como se escrevia uma palavra. E se eu não tivesse dicionário? Ou dinheiro para um computador, com corrector ortográfico, para as dúvidas mais básicas? Sem querer dar a imagem do alpinista (porque eu estaria a falar da busca do conhecimento e nos tempos que vivemos isso significa apenas fazer madeixas, não olhar a meios e subir em direcção ao fogo que queimará), ainda vou lembrando que é mais fácil atingir o cume com um casaco quentinho e umas botas adequadas.
Por isso, quando vejo alguém que conseguiu produzir uma obra contra todas as dificuldades económicas, sociais ou de qualquer outra natureza simples, não posso deixar de o/a valorizar.
É tão fácil conjugar bem os verbos quando o papá e a mamã (e ainda bem para eles) são licenciados e o avô e a avó tinham a casa cheia de livros...
E contudo...
FEIRAS DE VERÃO
Por todo o país as Câmaras, nos seus vários departamentos, se desdobram em festas e convites. A saber: Cantores de toda a espécie a 1000 contos. Fernando Rocha a 2000. Poetas e Escritores a deve-tar-maluco-se-pensa-que-lhe-vou-dar-um-cêntimo-para-falar-dessas-merdas-chatas.
É Portugal. O presente e o que se está a formar.
Por todo o país as Câmaras, nos seus vários departamentos, se desdobram em festas e convites. A saber: Cantores de toda a espécie a 1000 contos. Fernando Rocha a 2000. Poetas e Escritores a deve-tar-maluco-se-pensa-que-lhe-vou-dar-um-cêntimo-para-falar-dessas-merdas-chatas.
É Portugal. O presente e o que se está a formar.
14 de julho de 2004
É ENTRAR, MEUS SENHORES, É ENTRAR
Li, num jornal, outro dia, uma carta de um senhor que acusava o referido orgão de que "estari a fazer publicidade a uma empresa". Referia-se ao IKEA, a loja sueca de móveis. O director defendeu-se em meia-dúzia de palavras e passou adiante.
Hoje, foi a minha vez de ir dar uma volta ao gigantesco empreendimento. Levava uma desculpa: precisava ABSOLUTAMENTE de comprar X. E, lá, deveria haver.
Dei por mim, de sacos carregados de mil e uma coisas e uma vontade de mobilar a casa toda de novo, apenas com o que ali haveria. Conheci outras lojas desta marca no estrangeiro, por isso não sou um novato no comer sueco. Mas acabei por fazer o mesmo que os outros: comprar e querer comprar mais. Imagino os nossos vendedores de artigos de casa a levarem as mãos à cabeça e a anunciarem ruína. E para alguns será.
É inevitável o aparecimento destas grandes superfícies que nos trazem, nas diferentes áreas, o que o pequeno e médio comércio se tem recusado, ou não pode, dar: design, preço competitivo e possibilidade de passar horas e horas a mexer em tudo, a experimentar e a decidir o que apetece levar. Lojas como o IKEA, a Fnac ou a espanhola Zara cumprem o papel inevitável de globalizarem os objectos que nos cercam.
Haverá quem goste e quem odeie esta ideia. Mas para os últimos é melhor que comecem a pensar em alternativas...
ps: Claro que não trouxe o objecto que ia lá OBRIGATORIAMENTE comprar.
Li, num jornal, outro dia, uma carta de um senhor que acusava o referido orgão de que "estari a fazer publicidade a uma empresa". Referia-se ao IKEA, a loja sueca de móveis. O director defendeu-se em meia-dúzia de palavras e passou adiante.
Hoje, foi a minha vez de ir dar uma volta ao gigantesco empreendimento. Levava uma desculpa: precisava ABSOLUTAMENTE de comprar X. E, lá, deveria haver.
Dei por mim, de sacos carregados de mil e uma coisas e uma vontade de mobilar a casa toda de novo, apenas com o que ali haveria. Conheci outras lojas desta marca no estrangeiro, por isso não sou um novato no comer sueco. Mas acabei por fazer o mesmo que os outros: comprar e querer comprar mais. Imagino os nossos vendedores de artigos de casa a levarem as mãos à cabeça e a anunciarem ruína. E para alguns será.
É inevitável o aparecimento destas grandes superfícies que nos trazem, nas diferentes áreas, o que o pequeno e médio comércio se tem recusado, ou não pode, dar: design, preço competitivo e possibilidade de passar horas e horas a mexer em tudo, a experimentar e a decidir o que apetece levar. Lojas como o IKEA, a Fnac ou a espanhola Zara cumprem o papel inevitável de globalizarem os objectos que nos cercam.
Haverá quem goste e quem odeie esta ideia. Mas para os últimos é melhor que comecem a pensar em alternativas...
ps: Claro que não trouxe o objecto que ia lá OBRIGATORIAMENTE comprar.
12 de julho de 2004
DIAS DE TEMPESTADE
Há dias e meses e por vezes anos em que nos sentimos como viajantes que caminhassem por uma estrada de terra, no meio da chuva e da noite. O incómodo das roupas molhadas e da casa iluminada que não aparece dão-nos a ilusão do infindar do percurso. Mas todas são as noites que aclaram. E não há dia que não chegue.
Há dias e meses e por vezes anos em que nos sentimos como viajantes que caminhassem por uma estrada de terra, no meio da chuva e da noite. O incómodo das roupas molhadas e da casa iluminada que não aparece dão-nos a ilusão do infindar do percurso. Mas todas são as noites que aclaram. E não há dia que não chegue.
11 de julho de 2004
AINDA MAIS BREAKING ESTA NEW...
O grande projecto de obras públicas do novo governo já está pensado: um túnel que ligue Lisboa a Madrid. Bem aconselhado, como sempre, Santana Lopes teve uma tomada de consciência formidável: para quê gastar dinheiro com o TGV quando se pode simplesmente criar um túnel com uma inclinação tal que quando um objecto com rodas entra na parte de cima vai parar ao outro lado apenas pela gravidade.
O único senão é que os automobilistas terão de ir por estrada até à Serra da Estrela, local previsto para a entrada.
O grande projecto de obras públicas do novo governo já está pensado: um túnel que ligue Lisboa a Madrid. Bem aconselhado, como sempre, Santana Lopes teve uma tomada de consciência formidável: para quê gastar dinheiro com o TGV quando se pode simplesmente criar um túnel com uma inclinação tal que quando um objecto com rodas entra na parte de cima vai parar ao outro lado apenas pela gravidade.
O único senão é que os automobilistas terão de ir por estrada até à Serra da Estrela, local previsto para a entrada.
BREAKING NEWS
Santana Lopes não quis revelar à SIC quem vai escolher para o acompanhar nesta caminhada. Ou os seus projectos mais imediatos (além de se manter a pau com medo do tautau do Presidente...).
Contudo, recebi por email informações que se podem vir a verificar verdadeiras. Assim, para Ministro da Cultura estão dois nomes na calha: Tó Zé Martinho e Maria João Lopo de Carvalho... O primeiro tem a vantagem de saber o que é ter tido criadas e cozinheiras (o que se revelará uma mais valia na perservação da nossa etnografia). A segunda, além de ser capaz de virar tudo do avesso tornou-se irresistível ao publicar um livro com um menino de luvinhas de boxe e um beicinho que só apetece... adoptar.
Para as Finanças, ainda não se sabe, mas será provavelmente o dono da agência que idealizou e mandou imprimir os milhares e milhares de cartazes que entopem Lisboa. Alguém capaz de convencer um presidente de cãmara de que essa despesa era indispensável é capaz de tirar dinheiro das pedras...
Santana Lopes não quis revelar à SIC quem vai escolher para o acompanhar nesta caminhada. Ou os seus projectos mais imediatos (além de se manter a pau com medo do tautau do Presidente...).
Contudo, recebi por email informações que se podem vir a verificar verdadeiras. Assim, para Ministro da Cultura estão dois nomes na calha: Tó Zé Martinho e Maria João Lopo de Carvalho... O primeiro tem a vantagem de saber o que é ter tido criadas e cozinheiras (o que se revelará uma mais valia na perservação da nossa etnografia). A segunda, além de ser capaz de virar tudo do avesso tornou-se irresistível ao publicar um livro com um menino de luvinhas de boxe e um beicinho que só apetece... adoptar.
Para as Finanças, ainda não se sabe, mas será provavelmente o dono da agência que idealizou e mandou imprimir os milhares e milhares de cartazes que entopem Lisboa. Alguém capaz de convencer um presidente de cãmara de que essa despesa era indispensável é capaz de tirar dinheiro das pedras...
10 de julho de 2004
TEMPO DE PARTIR
Ligo a figura de Maria de Lurdes Pintasilgo a umas férias de Verão. Estava calor e havia uma pereira no quintal onde passávamos as tardes regressadas da praia. Falava-se do governo dos "100 dias", da proposta de uma mulher em mudar as coisas num tempo definido. Não resultou lá muito, é claro. Era mulher num país misógino e atávico; queria ser honesta na pequena mercearia dos favores políticos.
Também a sua candidatura às presidenciais foi especial. Um dos candidatos, já não me lembro se Mário Soares, o animal político, se o dramaturgo Freitas do Amaral (que, benza-o Deus, tem vindo a ficar mais sensato, politicamente falando, com o tempo), atacou a sua pretensão à Presidência com um argumento forte: "Uma mulher que não tem família não pode governar um país". Talvez a não tivesse, no sentido mais limitado do termo, mas tinha sem dúvida no mais amplo já que foi apoiada por milhares de pessoas sensatas e inteligentes. E bastou ver esse movimento para perceber que o passado está, por definição, sempre atrás.
Com Eduardo Lourenço (arquivo Instituto Camões).
Ligo a figura de Maria de Lurdes Pintasilgo a umas férias de Verão. Estava calor e havia uma pereira no quintal onde passávamos as tardes regressadas da praia. Falava-se do governo dos "100 dias", da proposta de uma mulher em mudar as coisas num tempo definido. Não resultou lá muito, é claro. Era mulher num país misógino e atávico; queria ser honesta na pequena mercearia dos favores políticos.
Também a sua candidatura às presidenciais foi especial. Um dos candidatos, já não me lembro se Mário Soares, o animal político, se o dramaturgo Freitas do Amaral (que, benza-o Deus, tem vindo a ficar mais sensato, politicamente falando, com o tempo), atacou a sua pretensão à Presidência com um argumento forte: "Uma mulher que não tem família não pode governar um país". Talvez a não tivesse, no sentido mais limitado do termo, mas tinha sem dúvida no mais amplo já que foi apoiada por milhares de pessoas sensatas e inteligentes. E bastou ver esse movimento para perceber que o passado está, por definição, sempre atrás.

Com Eduardo Lourenço (arquivo Instituto Camões).
9 de julho de 2004
BACK
Estive fora. Sem net. A digerir o jogo da final, a cara-de-pau do Santana e sus muchachos e a morte de Sophia. Disto tudo, só me resta a pena da última. A despedida da Fada Oriana que nunca conheci pessoalmente, mas a quem devo momentos de encantamento. Repousem em paz, a taça e a memória da escritora. Quanto ao outro, que o Tempo cumpra o seu papel.
Estive fora. Sem net. A digerir o jogo da final, a cara-de-pau do Santana e sus muchachos e a morte de Sophia. Disto tudo, só me resta a pena da última. A despedida da Fada Oriana que nunca conheci pessoalmente, mas a quem devo momentos de encantamento. Repousem em paz, a taça e a memória da escritora. Quanto ao outro, que o Tempo cumpra o seu papel.
1 de julho de 2004
PORTUGAL OLÉ OLÉ 3
Uma palavra de elogio para a nossa primeira-dama de tailleur feito com a bandeira nacional.Não se compara com a figura da mulher de Carlos Cruz, toda nua dentro da bandeira nacional, que fez a capa da Nova Gente (se não estou em erro...). Mas muito próximo de uma elegância-chinelo bem representativa das nossas gentes.
Ouvi dizer que o Toy até já está a pensar compôr uma cançãozita a propósito... ("Olha a bandeira que se farta de apitar, ripipipipi, e nunca mais desafina, rapaziada quem é que quer apitar... etc").
---------
---------
Uma palavra de elogio para a nossa primeira-dama de tailleur feito com a bandeira nacional.Não se compara com a figura da mulher de Carlos Cruz, toda nua dentro da bandeira nacional, que fez a capa da Nova Gente (se não estou em erro...). Mas muito próximo de uma elegância-chinelo bem representativa das nossas gentes.
Ouvi dizer que o Toy até já está a pensar compôr uma cançãozita a propósito... ("Olha a bandeira que se farta de apitar, ripipipipi, e nunca mais desafina, rapaziada quem é que quer apitar... etc").
---------

PORTUGAL OLÉ OLÉ 2
A energia em Lisboa era diferente, desta vez. O que começou por ser um ajuntamento de pessoas surprendidas com as inesperadas vitórias transformou-se numa segurança estrangeira; uma confiança a que não estamos habituados. E isso, sendo curioso, não é nada portuga... A ver vamos o que se segue.
A energia em Lisboa era diferente, desta vez. O que começou por ser um ajuntamento de pessoas surprendidas com as inesperadas vitórias transformou-se numa segurança estrangeira; uma confiança a que não estamos habituados. E isso, sendo curioso, não é nada portuga... A ver vamos o que se segue.
PORTUGAL OLÉ OLÉ
Graças aos deuses que está a acabar. Vão acabar-se as estafas a pé até ao Marquês e o regresso a casa arrastando a bandeira a que tenho sido (satisfeitissimamente) submetido :)
Para bem dos que entendem alguma coisa de futebol estou quase a calar-me com "Tirem-me esse homem da Grande Área" ou "Isto é claramente Fora de Jogo!". :) Por uma vez, Treinador de Bancada.
Graças aos deuses que está a acabar. Vão acabar-se as estafas a pé até ao Marquês e o regresso a casa arrastando a bandeira a que tenho sido (satisfeitissimamente) submetido :)
Para bem dos que entendem alguma coisa de futebol estou quase a calar-me com "Tirem-me esse homem da Grande Área" ou "Isto é claramente Fora de Jogo!". :) Por uma vez, Treinador de Bancada.
Subscrever:
Mensagens (Atom)